segunda-feira, 2 de maio de 2011

A política como serviço

O momento particular que atravessamos torna oportuna a reflexão sobre a dignidade da função política. O Papa Bento XVI é assertivo quando afirma que “o desenvolvimento é impossível sem homens retos, sem operadores económicos e homens políticos que sintam intensamente em suas consciências o apelo ao bem comum. São necessárias tanto a preparação profissional como a coerência moral” [2].
 Confrontar a nobreza desta função com a incoerência ética, muitas vezes evidenciada pelos políticos, cria em muitos cidadãos a desilusão e o descrédito perante a classe política que nos vem governando. Não é correto, porém, ceder à tentação de condenar, indiscriminada e genericamente, os políticos e as instituições democráticas. Mas é preciso dizer bem alto que a política tem de ser uma vocação de serviço e nunca uma via carreirista de promoção pessoal.
A situação atual exige uma consciência mais apurada do sentido do bem comum e da sua primazia em relação aos interesses particulares partidários, sectoriais ou corporativos. A gravidade da crise aconselha uma ampla congregação de esforços no sentido da sua superação. Encontrar soluções de consenso alargado (estruturas políticas e forças da sociedade civil), mesmo para além das maiorias parlamentares, contribuirá para reforçar a confiança e a esperança dos cidadãos. Esta congregação de esforços e a disponibilidade sincera para obter consensos alargados reforçarão certamente a credibilidade externa da sociedade portuguesa no seu todo.
É hora de cada cidadão iniciar o processo de mudança de paradigma, a nível pessoal ou institucional. É hora de fazermos memória do Povo que somos e de “navegar por mares nunca dantes navegados” (Luís de Camões, Os Lusíadas), passando além deste mal-estar social profundo. Como diz Fernando Pessoa: “Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa” (Livro do Desassossego). Uma língua, um ethos, uma cultura, que precisa de ser evocada, “ouvida e vista”, para que Portugal se possa cumprir no presente e no futuro.
(Discurso do Presidente da CEP na abertura dos trabalhosda 177.ª Assembleia Plenária da CEP (2-5 de maio de 2011)

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