O mundo atual está
marcado pela mobilidade, mas isso não é novidade para o cristão, que sempre foi
considerado um peregrino a caminho da terra prometida. Conscientes desta
condição, há muitos comportamentos a corrigir na nossa relação. Por isso o Papa
e a Igreja alertam-nos para alguns aspetos da realidade do ser humano e das
sociedades do mundo contemporâneo. Infelizmente não é apenas por causa da sua
condição de ser peregrino, que o ser humano se desloca do torrão e do país onde
nasceu. Mas também devido a guerras, a perseguições, a cataclismos e à fome.
Por isso precisamos de ver no migrante a sua dignidade de ser pessoa, com os
mesmos direitos e deveres que os autóctones, e até inicialmente de ser acolhido
e não devolvido ao país de origem, de ser protegido e não apenas socorrido, de
ser promovido em vez de abandonado à sua sorte, de ser integrado na sociedade e
não empurrado para guetos, como escrevemos na nossa Nota Pastoral de 12 de
abril de 2018, inspirando-nos na mensagem papal de 2018 e nos dois Pactos
Globais das Nações Unidas sobre Refugiados e para as Migrações Seguras,
Ordenadas e Regulares. Os países que assim procedem são enriquecidos em
todas as dimensões, como podemos constatar com os países desenvolvidos, embora
haja sempre aspetos a ser melhorados.
Hoje em dia temos de
lutar contra o individualismo, a indiferença, ou mesmo contra a consideração
dos migrantes como causa dos males que afetam as sociedades. Os migrantes obrigam-nos
a lutar contra os nossos medos, contra o fechar-se em si mesmo, em vez de se
encontrar com a pessoa do outro, sobretudo do mais frágil, levando-nos à
cultura do encontro, nós que fomos criados para comunicar e para a comunhão.
Isso apenas se consegue exercitando a caridade, deixando-nos comover, pois
neles vemos a nossa humanidade e o próprio Cristo. Como disse o Papa Francisco
na sua visita ao Azerbeijão, abrir-se aos
outros não empobrece, mas enriquece, pois ajuda-nos a ser mais humanos, a
interpretar a vida como um dom.
Vale a pena celebrar
esta semana dedicada aos migrantes, em Portugal sempre à volta do dia 13 de agosto
e o dia mundial dos migrantes e refugiados, agora transferido para o dia 29 de setembro,
para termos a oportunidade de pensar nesta dimensão das sociedades atuais e
sermos enriquecidos com as belas mensagens dos Papas. Peço também para não
esquecermos a nossa oferta solidária, pois há muitos migrantes e refugiados a
precisar de ajuda da Igreja.
†
António Vitalino, carmelita, vogal da CEPSMH
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