terça-feira, 6 de agosto de 2019

Semana Nacional de Migrações


O mundo atual está marcado pela mobilidade, mas isso não é novidade para o cristão, que sempre foi considerado um peregrino a caminho da terra prometida. Conscientes desta condição, há muitos comportamentos a corrigir na nossa relação. Por isso o Papa e a Igreja alertam-nos para alguns aspetos da realidade do ser humano e das sociedades do mundo contemporâneo. Infelizmente não é apenas por causa da sua condição de ser peregrino, que o ser humano se desloca do torrão e do país onde nasceu. Mas também devido a guerras, a perseguições, a cataclismos e à fome. Por isso precisamos de ver no migrante a sua dignidade de ser pessoa, com os mesmos direitos e deveres que os autóctones, e até inicialmente de ser acolhido e não devolvido ao país de origem, de ser protegido e não apenas socorrido, de ser promovido em vez de abandonado à sua sorte, de ser integrado na sociedade e não empurrado para guetos, como escrevemos na nossa Nota Pastoral de 12 de abril de 2018, inspirando-nos na mensagem papal de 2018 e nos dois Pactos Globais das Nações Unidas sobre Refugiados e para as Migrações Seguras, Ordenadas e Regulares. Os países que assim procedem são enriquecidos em todas as dimensões, como podemos constatar com os países desenvolvidos, embora haja sempre aspetos a ser melhorados.
Hoje em dia temos de lutar contra o individualismo, a indiferença, ou mesmo contra a consideração dos migrantes como causa dos males que afetam as sociedades. Os migrantes obrigam-nos a lutar contra os nossos medos, contra o fechar-se em si mesmo, em vez de se encontrar com a pessoa do outro, sobretudo do mais frágil, levando-nos à cultura do encontro, nós que fomos criados para comunicar e para a comunhão. Isso apenas se consegue exercitando a caridade, deixando-nos comover, pois neles vemos a nossa humanidade e o próprio Cristo. Como disse o Papa Francisco na sua visita ao Azerbeijão, abrir-se aos outros não empobrece, mas enriquece, pois ajuda-nos a ser mais humanos, a interpretar a vida como um dom.
Vale a pena celebrar esta semana dedicada aos migrantes, em Portugal sempre à volta do dia 13 de agosto e o dia mundial dos migrantes e refugiados, agora transferido para o dia 29 de setembro, para termos a oportunidade de pensar nesta dimensão das sociedades atuais e sermos enriquecidos com as belas mensagens dos Papas. Peço também para não esquecermos a nossa oferta solidária, pois há muitos migrantes e refugiados a precisar de ajuda da Igreja.

† António Vitalino, carmelita, vogal da CEPSMH

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