Entramos em semana santa. Semana dos maiores mistérios humanos e divinos. Podemos utilizá-la para a fuga, seja para Lloret del Mar ou para umas quaisquer férias intermédias. Ou podemos aproveitá-la… para entrar no mistério.
O Senhor Jesus seguiu esta via. Subiu a Jerusalém como judeu piedoso cuja referência última é o contacto com o Pai, no templo, lugar privilegiado da oração. Não hesitou no convívio com a multidão que fez dele o centro das atenções e das palmas. Enfrentou detratores e adversários, especialmente os que se consideravam justos e cumpridores da lei. Manteve-se próximo dos seus, em ceia pascal e na recitação dos salmos. Deu a cara aos que o prenderam, ainda que o beijo O tivesse feito sofrer tanto ou mais do que os pregos da cruz. Foi julgado pela multidão e foi por entre alas da plebe que chegou ao Calvário.
Precisamente por esta proximidade, não obstante o dramático do momento, ainda colou a orelha de Malco, habituado como estava a fazer o bem sem olhar a quem; cruzou olhares e gerou a confiança e o arrependimento, mesmo daquele que o tinha negado três vezes; viu lágrimas e secou-as, como deixou que enxugassem o seu suor; caiu, como se cai tantas vezes na vida sob os golpes mais duros, mas levantou-se e continuou a subida; aceitou que o homem de Cirene lhe levasse a cruz porque Ele também tinha aliviado a cruz dos outros. Enfim, viveu plena e profundamente a interligação com os outros, mesmo no que isso tem de misterioso e dramático.
Não se ausentou da cidade dos homens. Não se elevou para observar a partir de cima, deixando a dor da humanidade por baixo de si. Não se tornou um qualquer planador de ultraleves.
Voar, libertar-se do contacto com as realidades prosaicas da terra, observar de cima… a nível do desporto, é belo. Mas, como metáfora, pode ser uma bela… tentação: elevar-se acima dos outros, deixar de escutar os seus gemidos e ânsias de libertação, não se contaminar com os seus desesperos e faltas de esperança, nada fazer para retirar a dor e enxugar as lágrimas que secam por já não haver mais água nos olhos.
O Senhor Jesus inseriu-se totalmente na condição humana. Divinamente. Absolutamente. Por isso a remiu. Por isso é Salvador e não planador.
Fonte: aqui
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