Garantem os entendidos que a palavra «família» deriva da latina «famulus», a qual, por sua vez, se origina numa outra indo-europeia com o significado de servidor ou prestador de um específico encargo. Quer isto dizer que os avós dos nossos avós já sabiam que não se constitui família para que uma pessoa se faça feliz a si mesma, mas para, livremente, se colocar ao serviço dos outros: primeiro, da outra parte do casal; depois dos eventuais filhos; e sempre como missão para o bem do mundo e, se for crente, também da Igreja.
É urgente redescobrir isto. Como também o é que a Igreja rediga, com linguagem compreensível, o que o seu alto pensamento teológico foi compreendendo sobre esta realidade que lhe está bem no âmago.
Ora, em primeiro lugar, a Igreja vê a família como ícone da Trindade. E esta é amor e comunicação. Comunicação amorosa no interior da vida divina. E a família? A experiência indica que quando não se comunica no seu interior, enviam-se mensagens para fora. E o mal, que já está dentro, agrava-se a olhos vistos.
Depois, há um princípio cristológico: o matrimónio é expressão do amor com que Cristo ama a sua Igreja. Mas este amor é o mesmo do mistério pascal: suporta a dor de sexta feira santa, mas atinge a glória da Páscoa. Para nossa salvação. O pior que poderia acontecer a uma família seria não querer chegar aos aleluias pascais e emaranhar-se na negrura da traição de quinta feira e nos suplícios de sexta.
A família é Igreja doméstica: foi nela que, nos primórdios, mais se difundia e se rezava a fé. É a ela que esta dimensão tem de voltar. Aí se fará a experiência de um Deus como Pai, de Cristo como Esposo da Igreja, de Jesus como irmão e de cada um de nós como filhos no Filho. E nisto se verificam os quatro rostos possíveis que configuram todo o ser humano.
A família é também projeto escatológico, caminhada na direção do reino de Deus. É realidade aberta, pois há muitos caminhos para lá chegar. Mas a verdade é que Deus tem um desígnio sobre cada membro e sobre a família enquanto tal. Isto é, dá uma específica vocação. Não lhe corresponder, é negar o plano de Deus. É recusar a opção por Deus e pelo seu povo.
Há, pois, que repetir como São João Paulo II: “Família, torna-te o que és!”.
Fonte: aqui
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