CHAMADOS À CONVERSÂO NA CARIDADE EM AÇÃO
Felizmente
há a Quaresma, que “anuncia e nos torna
possível voltarmos ao Senhor, de todo o coração e com a nossa vida” (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2018) . É um longo
caminho, de regresso ao primeiro amor (cf. Os
2,16; Ap 2,4), uma espécie de namoro intensivo e extensivo, para não
deixar esfriar o amor de Deus, “que corre
o risco de apagar-se, nos nossos corações” (MQ 2018). Começamos hoje este
caminho com a imposição das cinzas, na esperança de reacender em nós a chama viva
do amor, que há de brilhar, em todo o seu ardor e esplendor, na luz do círio
pascal, aceso no lume novo da noite de Páscoa. E fazemo-lo em sintonia com a
caminhada proposta pela nossa Diocese: “CHAMADOS À CONVERSÂO NA CARIDADE EM AÇÃO”.
I. Um exercício de
aquecimento para não deixar resfriar o amor
Como pôr este amor em
movimento e nos deixarmos mover por ele? Que tipo de exercício de aquecimento
podemos fazer, para que não chegue a resfriar o amor? Vede esta escada, junto à
Cruz [2].
«Fora da cruz, não há outra escada, por onde se suba ao céu»” (Santa Rosa de Lima, CIC, n.º 618). Os movimentos de descida e subida nesta
escada sugerem-nos o paradoxo da descida e da subida de Jesus na Cruz e o
sentido mais profundo do seu mistério pascal, assim dito por São João: “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe
entregou o seu Filho Unigénito” (Jo 3,16). Na verdade, a Cruz é, ao mesmo tempo, a
escada por onde Jesus desce e é humilhado e por onde Ele sobe, para ser
exaltado. Nela, o cristão aprende de Cristo, o caminho do amor, pelo qual se
sobe descendo e se desce subindo! Semana a semana, da Quaresma à Páscoa, desceremos
por estes degraus, para subirmos depois, no tempo da Páscoa ao Pentecostes. Esta escada, pela qual subimos descendo e
descemos subindo, ajuda-nos a compreender que é tão necessário “o esforço da caridade” (1
Ts 1,3), para que o amor não corra o risco de esfriar. Para
crescer e se fortalecer, o amor requer exercícios
de aquecimento, exige treino, implica disciplina, pede renúncia e aceita humildemente
a própria dor. Não daremos um passo maior que a
perna! Desceremos ou subiremos um degrau de cada vez,
porque
o amor de Deus deve crescer em nós, pouco a pouco, passo a passo, “de glória em glória” (2 Cor
3,8) até
chegarmos a ser transfigurados, à imagem de Jesus Cristo Ressuscitado.
II. O doce remédio para não deixar resfriar
o amor
Em
que se concretizam estes exercícios espirituais? Que doce remédio nos pode
ajudar a voltar ao primeiro amor? Fiel ao Evangelho, a Igreja e o Papa na sua
Mensagem, propõem-nos, desde o início da Quaresma, a esmola, a oração e o
jejum.
2.1. A esmola no topo das obras do amor
A
esmola (a partilha de bens) está no topo das obras do amor. Tenhamos em conta,
diz o Papa, que aquilo que “apaga o amor
é, antes de mais nada, a ganância do dinheiro, «raiz de todos os males» (1 Tm 6, 10)” (MQ 2018). Por isso, a conversão só é genuína quando chega aos
bolsos. Desafia-nos ainda o
Papa: “Como gostaria
que a esmola se tornasse um verdadeiro estilo de vida para todos! Como gostaria
também que no nosso relacionamento diário, perante cada irmão que nos pede
ajuda, pensássemos: «Aqui está um apelo da Providência divina»”. E não nos faltarão oportunidades.
Não tenhamos medo de dar, até porque o Diabo entra sempre pelos bolsos!
2.2. A oração para conhecer Deus, na intimidade do Seu
amor
Jesus
recomenda-nos “entrar no segredo do
quarto para rezar” e deste modo sugere-nos que a oração é um namoro com
Deus, um encontro nupcial, uma expressão da intimidade do amor. “Rezar é estar a sós, com Aquele que sabemos
que nos ama” (Santa
Teresa de Jesus).
“Dedicando mais tempo à oração,
possibilitamos ao nosso coração descobrir as mentiras secretas com que nos
enganamos a nós mesmos, para procurar finalmente a consolação em Deus” (MQ 2018). É muito importante preestabelecer o tempo da oração
pessoal e em família. Aproveitemos um dia por semana, sugiro-vos a sexta-feira,
para fazer o exame de consciência, em família, a partir de um dos atributos do
amor. Rezemos mais. Pessoalmente, em família e em comunidade.
2.3. Jejum: para refrear o apetite e não deixar
resfriar em nós o amor
Por
fim, é-nos proposto o jejum, para crescer na elegância e na beleza do
amor. Quando alguém está apaixonado por uma
obra-prima ou por alguém, até se esquece de comer, dando à tarefa ou à pessoa,
a prioridade do seu tempo e do seu esforço. Jejuar significa que as nossas
escolhas de vida não andam ao sabor dos apetites, mas são motivadas pelo amor. Criando
em nós hábitos de sobriedade, na comida e na bebida, nos gastos de água e de
luz, o jejum dispõe-nos para o dom do tempo na oração e para o dom dos nossos
bens na partilha .
Uma das formas de jejuar pode ser a de comer sem a companhia invasiva do telemóvel,
do computador e da televisão. Aprendamos a rezar, pelo menos, antes das refeições
e a conversar um pouco mais à mesa. Deste modo, jejuaremos para aprender a
comer como filhos e não como máquinas ou animais. Jejuemos para fazer de cada
refeição um encontro amoroso e familiar, de ação de graças e de louvor ao
Senhor.
III. Se não tiver
amor, de nada me aproveitará
Irmãos:
estes são os nossos exercícios de aquecimento, na escada do amor! Se não houver
amor na oração, na esmola e no jejum,
“de nada me aproveitará” (1 Cor 13,3), continuaremos então esfriados “no trono de gelo do nosso amor sufocado”
(MQ 2018)! Mas se agirmos,
movidos pelo Amor que Se entrega na Cruz, “Deus
sempre nos dará novas ocasiões para reacender em nós o amor e recomeçar a amar”
(MQ 2018).
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