Leituras: aqui
1. «Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo»! Duas imagens, de
alta definição, para ilustrar a identidade do cristão! «Vós sois o sal da terra»! Toda a gente sabe que o sal serve, sobretudo, para dar sabor à
comida e para preservar os alimentos da corrupção. Dito assim, os discípulos de
Jesus hão de contribuir para que as pessoas saboreiem a beleza de uma vida, cheia
de alegria, sem cair na corrupção. «Vós
sois a luz do mundo». Sem a luz do Sol, o mundo fica nas trevas! Não nos
podemos orientar, nem desfrutar da vida, no meio da obscuridade. Os discípulos
de Jesus devem refletir no mundo a luz de que este precisa, para nos
orientarmos na justa direção e caminharmos na esperança. E é impressionante a
amplitude da missão que Jesus confia a discípulos “cheios de fraqueza e de temor”: uma Terra inteira a salgar e o mundo
todo a iluminar. Num caso, como noutro, Jesus sabe bem que basta um pequeno
fósforo aceso na noite, para a muitos iluminar e que uma pitada de sal é
bastante para dar a tudo um outro sabor.
2. Mas perguntemo-nos agora:
que têm de comum estas duas belas imagens de alta definição do cristão?
Procuremos individuar três semelhanças:
2.1. Para ser sal ou para ser luz, é preciso sair para fora de si e agir!
Se permanecer isolado num recipiente, o sal não serve para nada! Só quando este
entra em contacto com os alimentos e se dissolve na comida é que pode dar sabor
aos alimentos. O mesmo sucede com a luz. Se permanecer encerrada e oculta, não
pode iluminar ninguém! Ela cumpre a sua missão quando se projeta como a luz de
um farol ao longe, que ilumina o caminho no meio da tempestade, ou como a luz
de uma candeia, ao perto, que ilumina os pequenos espaços de escuridão nas
nossas vidas (cf. AL 291). Conclusão muito simples e muito prática: um cristão isolado
do mundo, a cheirar a naftalina, não pode ser nem sal nem ser luz. Portanto, o
remédio é fugir de uma Igreja encerrada em si mesma, paralisada pelos seus medos
e afastada dos problemas e sofrimentos humanos. Saiamos, por toda a parte (cf.
EG 49), para dar sabor e curar a vida triste e ferida de tantas pessoas!
Saiamos, iluminados pelo Evangelho, “para que nenhuma periferia fique privada
da Sua luz” (cf. EG 288)!
2.2. Mas o sal e a luz têm outra coisa em comum: ambos são para os outros.
O sal não se tempera a si mesmo e a luz não se ilumina a si própria. O sal
aumenta à medida que se espalha! E uma luz que não se apega, também se apagará.
Portanto, o desafio é claro: sê uma
missão na tua terra (cf. EG 273); espalha, à tua volta, a partir do teu
metro quadrado de vida, o sal do Evangelho, que preserva da corrupção. Mas não
queiras conservar-te a ti mesmo! Ilumina, ao teu redor, com a luz do Evangelho,
mas defende-te da tentação de te iluminares a ti próprio, sob o risco de te
encandeares! Aprende da Lua em relação ao Sol: reflete a luz recebida!
2.3. Por último, gostaria de destacar outro ponto em comum: tanto
o sal como a luz podem vir a perder a sua força! Como evitar então o
cristão com cheiro a naftalina, insosso e apagadinho? É preciso estar
sempre ligado, conectado ao Senhor, sobretudo pela oração, que nos ilumina o
coração, e pelos sacramentos, que nos dão a saborear a bondade de Deus. Poderás
fazer muitas obras, inclusive obras de
misericórdia, poderás fazer muitas coisas grandes pela Igreja, mas se estás
desligado da fonte, se estás desconectado do teu Senhor, depressa a energia que
te move desaparecerá e ficarás, sem força e na escuridão. É precisamente esta
comunhão com o Senhor, a verdadeira fonte de energia, que carrega a tua bateria,
que dá força ao sal e vida à luz. Por isso, no fim, nos dizia o Senhor: «assim deve brilhar a vossa luz, para que vendo
as vossas obras glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus». Por outras
palavras, é preciso voltares sempre Àquele que te concede o sal e a luz! Quanto
mais os receberes, mais os darás! E quanto mais os deres, mais os receberás! É
assim o cristão de alta definição!
Amaro Gonçalo
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