Leituras: aqui
I. Degrau a
degrau, o sermão da montanha põe-nos muito alta a fasquia do amor! E não se
trata de uma medida alta para
campeões, super-homens, extraterrestres ou heróis da banda desenhada! A
santidade é a “medida alta da vida cristã
comum” (NMI 31). E, por isso, Jesus não deixa de a propor a todos os Seus discípulos.
A montanha que somos desafiados a escalar, faz-se subindo, degrau a degrau, o
caminho da perfeição, que é afinal o caminho do amor.
II. Vou
recordar-vos cinco degraus nesta escalada. Cada um examine-se, vendo bem a que
distância se encontra do ideal cristão, do topo desta montanha.
Primeiro degrau: vingar
o mal com um mal ainda maior.
Nas primeiras páginas da Bíblia, encontramos vestígios da «lei da vingança», quando se diz: «Caim é vingado sete vezes, mas Lamec setenta vezes sete» (Gn 4,24). Aqui respira-se uma vingança irracional, um ódio descontrolado! Há
restos disto naquela triste ameaça: «A
vingança vai ser terrível»! Oh, quanto caminho há ainda por fazer, para
chegar à não violência ativa, como forma de alcançar a paz!
Segundo degrau: pagar o mal com o mal. No livro do
Êxodo encontramos a famosa «lei de talião»:
“olho por olho, dente por dente” (Ex 21,24). Isto ainda nos parece qualquer coisa de muito bárbaro, mas, à época,
era já um grande avanço: o agressor receberia apenas uma sanção igual àquela
que provocara na vítima! Aqui há já um limite para a vingança, mas esta não
desarma: «Cá me fazes, cá me pagas»! Oh,
quão distantes estamos ainda de oferecer
a outra face ao agressor!
Terceiro degrau: não
fazer ao outro o mal que não se deseja para si mesmo. No livro de
Tobias, encontramos esta “regra de ouro”:
“Não faças aos outros o que não queres
que te façam a ti” (Tb 4,15). Aqui a sentença é mais elevada, mas não vai longe: basta ficar
quieto, não agir nem reagir…Estamos ainda a léguas daquele amor ativo, capaz de querer
bem e de fazer o bem a quem nos faz mal!
Quarto degrau: fazer
ao outro o bem que se deseja para si. Nos Evangelhos, a regra de ouro aparece-nos, formulada pela positiva. «Faz aos outros, o que queres que te façam a ti» (Mt 7,12; Lc 6,31). Só
que, neste 4.º degrau, como no anterior, há ainda um vício de raiz: a referência
e a medida do amor parece que sou eu!
Ora é preciso romper este circuito fechado do amor, para que a medida seja
maior.
E eis que vem o degrau mais alto:
o mandamento novo: «Amai-vos
uns aos outros, como Eu vos amei» (Jo 13,34). Aqui a medida já não sou eu. Aqui a medida é Jesus, o Jesus da Cruz.
Aqui o amor é incondicional, sem retorno, até ao fim! Aqui o amor é responder à
violência com a ternura, rompendo o ciclo da vingança. Aqui o amor é responder
à soberba, com o excesso do dom, desatando o nó cego do egoísmo. Aqui a regra é
esta: todo o “desamor com amor se paga e
apaga”.
III. E perguntareis, no fim de tudo isto: é-nos possível chegar ao topo da
montanha e alcançar o TOP deste amor
aos inimigos? Jesus deixa-nos uma dica importante, quando diz: «Orai pelos que vos perseguem». Sem
oração, não vamos lá. A oração é a única arma que nos desarma, porque a oração transforma
os nossos sentimentos e até a vontade, à
imagem de Deus Pai, “que faz nascer o
sol sobre bons e maus”, à imagem do
Filho, que respondeu à violência da Cruz com a oferta da vida, e à imagem do Espírito Santo, que é amor
sem medida. Pela oração, alcançamos uma nova visão, que nos faz ver Deus como
Pai e o outro como irmão.
IV. Vê bem em que
degrau te encontras. Vai subindo, um de cada vez, de mãos dadas à Cruz do
Senhor. Não fiques caído no vão da escada! Prossegue a escalada do amor! E reza: “Dá-me, Senhor, o que mandas e então manda o
que quiseres” (Santo
Agostinho, Confissões X, 29,40)!
Amaro Gonçalo
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.