quinta-feira, 1 de novembro de 2012

2 de Novembro: Fiéis Defuntos

    Sem Deus, o que é que fica?
Nada antes da vida; nada depois da morte!
1. Nestes dias, muitos de nós vimos (vamos, fomos, iremos) ao cemitério, rezar pelas pessoas queridas, que “partiram antes de nós, marcados com o sinal da fé e dormem agora o sono da paz” (OE I). É uma visita, destinada a expressar-lhes todo o nosso afeto, uma forma de os sentir mais de perto, recordando também, deste modo, um artigo do Credo, mais antigo da nossa fé, que professa assim: “creio na comunhão dos santos”. Há, na verdade, um vínculo estreito entre nós, que ainda caminhamos nesta terra, e os nossos irmãos e irmãs que já alcançaram a eternidade! A morte não destrói os laços da amizade, do amor e da familiaridade. Pelo contrário, ao libertar a pessoa daquilo que a impede de amar na perfeição, a morte projeta-nos totalmente em Deus, e por isso aproxima-nos e une-nos de modo ainda mais forte aos outros. Por isso, muito embora a morte seja um tema quase proibido na nossa sociedade, ela afeta-nos, a cada um de nós; ela afeta o Homem, de todos os tempos e lugares. Diante deste mistério, todos, ainda que inconscientemente, procuramos algo, que nos convide a esperar, um sinal que nos dê consolo, que abra algum horizonte, que ofereça um futuro! O caminho da morte acaba sempre por ser um caminho de esperança!
2. Mas então, por que tememos tanto a morte? Por que é que a humanidade, na sua maioria, nunca se resignou a crer, que depois da morte, não haja simplesmente o «nada»? Eu diria que as respostas são muitas: tememos a morte, porque temos medo desse nada, temos medo desse “partir” rumo a um beco sem saída. E existe em nós um sentimento de rejeição, porque não podemos aceitar que tudo o que de belo e de grande foi realizado durante toda uma vida, seja eliminado de repente, caia em saco roto. Acima de tudo, sentimos que o amor promete o infinito e nos abre à eternidade, e que não é possível que este amor seja destruído, pela morte, num único instante. Porque na verdade, o amor é mais forte do que a morte! Por outro lado, permanece ainda o medo da morte porque, ao toparmos com o final da existência, pressentimos que haverá um juízo, sobre o modo como levamos esta nossa vida presente.
3. Queridos irmãos e irmãs: só quem reconhece, pela fé, uma grande esperança na morte, é que pode também viver uma vida, todos os dias, animada pela esperança. Se reduzimos a pessoa humana, à sua dimensão terrena, até a própria vida presente perde o seu sentido mais profundo. A pessoa humana precisa da eternidade e aspira por ela! E qualquer outra esperança, para nós, é breve, pequena e limitada demais. Hoje são muitos os que alimentam a ilusão de vencer o problema da morte, através de experiências visionárias, como se fosse possível entrar em contacto com o mundo de além, quase como quem faz uma chamada telefónica, da terra para o céu. Deste modo, põe-se de lado a fé, a oração e a eucaristia, como fontes de comunhão, e acaba-se por cair em formas de espiritismo, imaginando uma qualquer outra realidade que seria uma espécie de réplica, ou um duplicado, ou um mero prolongamento desta vida presente.
 
4. Mas não. O mistério da vida e da morte, só pode ser compreendido e aceite, na fé. Caminhamos à luz da fé e não da visão clara. Só a fé, nos pode ajudar a perceber que, por detrás do silêncio do universo, das nuvens da história, há Deus! Este Deus interrompeu o seu silêncio, Deus falou, por meio de Seu Filho. Este Deus conhece-nos, ama-nos! Entrou na nossa história, vivendo e morrendo, como nós e por nós. Jesus é este Deus connosco, que sofre connosco, até à morte e daí mesmo nos levanta e ressuscita, para a vida. Portanto, existe um Amor, que supera todo o isolamento, inclusive o da morte, numa totalidade de vida, que está para lá deste espaço e deste tempo. Assim, a certeza de que há um céu, não vem de um menino de 4 anos, que esteve no céu e trouxe de lá a mensagem de que «o céu existe mesmo» (cf. TODD BURPO-LINN VINCENT, O céu existe mesmo,Ed Lua de Papel, 2011). Não. Há um céu, há vida para além desta vida, e a partir dela, porque Deus existe e esse Deus é Amor. Por isso, sem Deus, o homem estará, sempre, neste mundo, sem vida e sem esperança! Sem Deus, o que é que fica? Nada antes da vida; nada depois da morte!
5. Irmãos e irmãs: Cada domingo, e também hoje, ao recitarmos o Credo, nós professamos a fé da Igreja, afirmando a nossa responsabilidade, diante do juízo de Deus; no mesmo Credo, professamos a fé na ressurreição. Ao visitarmos os cemitérios, para rezar com afeto e com amor, pelos nossos defuntos, somos, pois, convidados, mais uma vez, a professar a nossa fé na vida eterna, a celebrar e a rezar esta grande esperança, e a vivê-la, no compromisso, por um mundo melhor. Com esta esperança, que a fé nos sustenta, trabalhemos, ainda e sempre mais, para aproximar este nosso mundo do mundo novo, que há de vir. Ámen!
Fonte: aqui

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