quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-Feira de Cinzas 2011


1. «Convertei-vos, a Mim”», diz o Senhor! Nós ouvimos, por dentro, este toque a rebate. Mas o que é afinal esta conversão. de que tanto se fala?! Antes de mais, conversão significa e implica um «regresso a Deus», um «retorno à Casa do Pai» (Lc.15,17), e comporta, por isso, o desafio a fazer uma inversão de marcha, a voltar às origens, como quem procura, no deserto do silêncio e da palavra, a frescura e a doçura do primeiro amor (cf. Os.2,16)! Conversão, portanto, não é, em primeiro lugar, mudança de hábitos, de costumes, de procedimentos. Conversão é, primariamente, regresso a Deus, como fonte da vida, e que naturalmente tem por exigência uma mudança de mentalidade, e por consequência uma transformação do coração e da vida! Conversão implica, pois, sair de si mesmo, como centro do mundo, renunciar a viver de si e para si, para se deixar guiar e transformar por Deus!

2. Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus (Joel 2,13)! Conversão quer, por isso dizer, na prática, e em primeiríssimo lugar: «dai lugar a Deus, deixai Deus entrar na vossa existência, sem que nada se anteponha ou sobreponha a Ele! Só assim, Deus se tornará a razão primeira e a finalidade última da vossa vida»! Esta é a mudança que importa: não apenas mudar hábitos e atitudes, mas mudar as razões mais fundas e profundas do meu viver, deixar que sejam outros os fins últimos, que mandam e comandam a minha vida!

3. «Convertei-vos e acreditai no evangelho»! (Mc.1,15). É Deus, em nós, por nós e connosco, que nos há-de converter! Neste sentido, a conversão não é uma realização nossa, como se cada um se tornasse o arquitecto, que forma a construção e embeleza a paisagem da sua própria vida. Não. A conversão consiste essencialmente, nesta decisão de renunciar a fazer-se pelas próprias mãos, para deixar Deus criar e a recriar a nossa vida! Trata-se, no fundo, de renunciarmos aos ídolos, às coisas que nos ocupam inteiramente a vida e abusivamente o coração, para nos convertermos ao Deus vivo e verdadeiro (cf. Act.14,15; I Tes.1,9)!

4. Era assim, para os adultos, que, nos primeiros séculos do cristianismo, se propunham, na Quaresma, a fazer a preparação final para celebrar o Baptismo, o Crisma e a Eucaristia, na noite de Páscoa! Há-de ser assim, para todos nós, que queremos, nesta Quaresma, regressar «às águas refrescantes» do Baptismo, para alcançar, na Páscoa o dom da vida nova! Deste modo, ficará mais claro que “o Baptismo não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que enforma toda a nossa existência, nos doa a vida divina e nos chama a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela graça de Deus (adapt. MPQ2011, n.1).

[5. Queridos irmãos e irmãs: Procurávamos nós um símbolo, para esta caminhada. Escolhemos o cajado do Bom Pastor! É Ele que nos conduz às águas refrescantes do Baptismo, com o óleo do Crisma nos perfuma a cabeça, e para nós prepara a mesa da Eucaristia (cf. Salmo 22). O cajado remete-nos para a ideia da Quaresma, como uma peregrinação, “um caminho de purificação no espírito” (MPQ2011, introdução), em que vamos (re) percorrer as etapas da nossa iniciação cristã.Por outro lado, para a redescoberta das fontes da vida nova, procuraremos ligar ao cajado outros símbolos baptismais, como a concha da água, a vela e a veste do Baptismo!]

6. Queridos irmãos e irmãs: É claro que a conversão, como regresso a Deus e à graça da sua vida, iniciada em nós, pelo Baptismo, não pode desligar-se do compromisso concreto! Pelo que, semana a semana, ser-vos-ão feitas propostas simples, quer ao nível de cada família, quer ao nível da comunidade paroquial, no seu todo. Hoje mesmo Jesus nos lembrava algumas práticas facilitadoras da nossa conversão: «a esmola, a oração e o jejum» (cf. Mt.6,1-6.16-18)! Tais práticas, porém, destinam-se a um único fim: dar a primazia a Deus! Por exemplo:

a) Jejuar serve para despertar na alma a fome espiritual da Palavra de Deus e sentir na pele a fome real dos irmãos. Menos para mim, mais para os outros, tudo para Deus.

b) Partilhar é uma atitude preventiva e curativa, para que o dinheiro não se nos apegue, e não chegue a ocupar o lugar de Deus; antes sirva, para ir ao encontro do próximo!

c) Rezar, com tempo, na escuta da Palavra, pois quem disser que não tem tempo para rezar, já se deixou alienar pelas coisas e reneg a a Deus o seu lugar primeiro!

7. Durante a imposição das Cinzas, à ida e no regresso, de pé ou no banco, procurai, durante este tempo, elaborar um pequeno projecto, para esta Quaresma, em três pontos simples:

1º Fixar, com realismo, um tempo de oração diária. Quando e como? Escolha um tempo curto e um lugar certo!

2º Definir uma forma concreta de partilha, seja de tempo, de serviço ou de dinheiro ou de tudo isto. Escolha quanto, quando e a quem!

3º Ver com humildade o aspecto da minha vida pessoal, que mais reclama mudança ou melhoria? Se a minha vida «está mais ou menos», então tenho de ver qual é esse «menos», em que preciso de mudar «mais».

Este é mesmo o primeiro e mais difícil passo da conversão: converter-me à necessidade de conversão! Daí o apelo radical: “Convertei-vos”! É de sempre e para todos, a começar por mim! Aqui e agora!

Pe. Amaro Gonçalo, aqui

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