Celebramos este Domingo o Dia Mundial das Missões. O tema proposto pelo Papa Francisco para este ano é recolhido da parábola do banquete nupcial, onde ressoa aquele apelo do Senhor, nosso Rei e Salvador: “Ide e convidai a todos para o banquete” (Mt 22,9). «No coração da missão, está aquele “todos, todos, todos”, que escutávamos da voz do Papa na JMJ em Lisboa. Nós que aqui viemos respondemos «sim», «eis-me aqui». Mas daqui mesmo o Senhor nos envia a levar este convite a todos, sem excluir ninguém. Na verdade, «não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, deseja alcançar todos» (Sac. Carit. 84). Preparemo-nos então para entrar na festa com o traje nupcial, que é tecido com o linho da toalha do serviço e só pode ser vestido por quem se dispõe a servir e a dar a vida pelos outros.
1.Tiago e João tinham por alcunha “filhos do trovão”. À vista da triste cena, narrada pelo Evangelho, bem podiam eles adotar o apelido familiar “da Cunha Valente”: Tiago da Cunha Valente e João da Cunha Valente. Eles vão para Jesus, atrás d’Ele… e não para trás dele, a ver se conseguem um lugar ao lado d’Ele. Eles querem instalar-se e sentar-se um à direita e outro à esquerda de Jesus, para governar, poder e mandar. Eles querem garantir um lugar de honra e majestade. Mas o caminho de Jesus é outro: não é a rota da sede do poder, mas o trilho dos peregrinos; não é caminho da honra e dos títulos, mas o da desonra e da Cruz. É o caminho do dom e não do domínio; é o caminho do serviço ao outro e não do servir-se do outro; é o caminho em que cada um não procura um bom lugar para si, mas deseja tornar-se o melhor lugar para os outros. É, por isso, um caminho radicalmente diverso daquele por que correm os trepadores do poder. Jesus contrapõe a lógica do lava-pés à lógica dos grandes e dos chefes das nações. Para sermos mais fiéis, as palavras de Jesus «não deve ser assim entre vós», devem ser traduzidas como um mandamento para sempre: “não é assim entre vós” (Mc 10,43).
2.“Não é assim entre vós”. Mas é-o tantas vezes. É tão fácil e é tão comum reduzir a nossa vocação cristã a um estado de vida ou a um status social, em vez de fazer dela um caminho de seguimento de Jesus. É tão fácil e é tão comum confundir o serviço da autoridade e da unidade, com o exercício do poder sobre os outros. É tão fácil e é tão comum, quer a leigos quer a clérigos, transformar qualquer serviço – por simples que seja – em lugar de poder, qualquer ministério em lugar de honra e fazer da missão uma carreira. Se o apego ao dinheiro é a raiz de todos os males, a ânsia e o abuso de poder está na raiz de todos os abusos, dentro e fora da Igreja! Curiosamente, na Carta aos novos cardeais (06.10.2024), o Papa Francisco tira-lhes as peneiras e diz-lhes textualmente: “Rezo por ti, a fim de que o título de “servidor” ofusque cada vez mais o de “Eminência”.
3.Irmãos e irmãs: é preciso cultivar a atitude de serviço, na comunidade cristã e na sociedade em geral. Para isso, é preciso educar as pessoas, desde o âmbito familiar ao âmbito escolar.
3.1.Sobre a educação para o serviço no âmbito familiar, dizia Madre Teresa: “A casa é o primeiro lugar onde é necessário praticar o espírito de serviço. Conheceis realmente os vossos familiares, os vossos vizinhos, as pessoas que frequentais? Preocupais-vos, com a sua felicidade? Procurai, antes de tudo, fazer isto e, depois, podereis pensar também nos pobres da Índia ou de outros países”. Eu diria: caríssimos pais e avós: que os vossos filhos e netos sejam educados em casa, para o serviço e não para fazer dos outros criados; que eles não sejam os reis e senhores, os príncipes e as princesas, mas os humildes servidores, capazes dos pequenos gestos de amor em cada dia. Ensinai-lhes que amar é lavar a loiça, limpar o chão, arrumar a casa. Não é bom ser importante. Importante é ser bom. Quem não vive para servir, não serve para viver. Nem sequer para casar!
3.2.Sobre a educação para o serviço no âmbito escolar é necessário ter a coragem de formar não apenas pessoas competentes, com altos títulos académicos, mas pessoas disponíveis, para se colocarem ao serviço da comunidade. Isso significa, não olhar de cima para baixo, mas de baixo para cima, inclinar-se sobre quem é necessitado e estender-lhe a mão, com ternura e compreensão, como Jesus ao lavar os pés. Servir significa trabalhar ao lado dos mais necessitados, estabelecer com eles, antes de tudo, relações humanas, de proximidade, vínculos de solidariedade. Nesta perspetiva, todas as instituições educativas se devem deixar interpelar acerca das finalidades e métodos, com que desempenham a sua missão formadora. Formamos servidores do bem comum ou uma elite de privilegiados?
Com todos e para o bem de todos, é a nossa divisa, enquanto peregrinos de esperança. Cada um interrogue-se hoje: “sirvo os outros, dando o meu tempo e a minha vida pelos outros ou a minha vida não serve para nada?!
Amaro Gonçalo - Fonte: aqui
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