sexta-feira, 23 de setembro de 2016

25 Setembro 2016 - 26º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Leituras: aqui
  1. Aqui não há misericórdia! A parábola evidencia precisamente o contrário, neste Ano Jubilar, em que somos convidados a redescobrir e a praticar, com alegria, as obras de misericórdia (MV 15), a começar pelo mais básico: «dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos» (Mt 25,35-36.42-44). Ora Lázaro tem fome, mas nem sequer aos restos da mesa do rico tem direito! Lázaro é um sem-abrigo, que jaz junto do portão de um homem, que se vestia de púrpura e linho fino. Lázaro é um doente, coberto de chagas, que morre, por falta de assistência. Afinal, e ali, tão perto da vista e tão longe do coração, está um homem rico, que leva uma vida de rei. Indiferente ao pobre Lázaro, faz vista grossa e ouvidos de mercador. É rico, sim, mas é um homem sem nome, um homem bruto, indiferente, incapaz de se compadecer ou de se afligir com a ruina do irmão. São duas vidas paralelas, dois mundos opostos, separados por um abismo de indiferença! 
  2. Todavia, aos olhos de Deus, muito mais importante do que o homem rico, é o pobre Lázaro. O seu nome é referido aqui cinco vezes. E significa «Deus ajuda». No pobre, é Deus que clama por mim! Ignorar o pobre significa desprezar a Deus! Se eu não escancarar a porta do meu coração ao pobre, aquela porta permanecerá fechada, inclusive para Deus. E isto é terrível. A misericórdia de Deus, por nós, será à medida da nossa misericórdia pelo próximo. E não haverá uma segunda oportunidade, para escapar a este «inferno», de uma vida sem amor. É agora, em vida, que é preciso dar a volta à situação. A oportunidade não virá depois da morte. Depois, a situação será definitiva, irreparável e irreversível. O «inferno», descrito pela parábola, é precisamente isto: «o sofrimento por não mais se poder amar».
  3. Talvez esta parábola não nos assuste assim tanto, porque não nos revemos na figura do homem rico. Somos gente pobre ou remediada! Mas pensemos: mesmo não sendo ricos, quantas vezes fingimos não ver, quem está tão perto de nós?! Quantas vezes deixámos de ouvir o grito de sofrimento, de quem mora ao lado, por baixo ou por cima do nosso andar?! Quantas vezes dissemos que não há pobres e… se os há… serão eles os culpados da sua miséria?! Fazemos de conta que o problema é lá no «terceiro mundo» ou, se for cá, à minha porta, será, com certeza, uma situação para a Segurança Social ou a Conferência Vicentina resolverem! 
  4. Esquecemo-nos de que a miséria dos outros virar-se-á, rapidamente contra nós, não só no mundo que há de vir, mas desde já, neste mundo, onde as guerras e os conflitos, regra geral, têm como causa principal esta indiferença dos poderosos e dos ricos, face às situações de pobreza, como nos recordou, na passada terça-feira, o Papa Francisco, em Assis. Ali, o Papa desafiou todos os crentes, das diversas religiões, a dizer «não» “à tranquilidade de quem se esquiva às dificuldades e vira a cara para o lado; não ao cinismo, de quem lava as mãos dos problemas alheios; não à abordagem virtual de quem julga tudo e todos, no teclado de um computador, sem abrir os olhos às necessidades dos irmãos, nem sujar as mãos em prol de quem passa necessidade. A nossa estrada é mergulhar nas situações e dar o primeiro lugar aos que sofrem(Papa Francisco, Discurso, Assis, 20.09.2016).
  5. Irmãos: A parábola alerta-nos de maneira clara: o que houver a fazer, não pode ser deixado, nem por nós, nem pelos outros, para depois de morrer: é em vida, irmãos, em vida!
Amaro Gonçalo

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