Somos todos irmãos
O “Dia dos irmãos”, 31 de maio, uma iniciativa da Confederação das Famílias numerosas, celebra-se a encerrar aquele que é considerado o mês da família. «O principal objetivo é relembrar a importância que os irmãos têm na formação pessoal de todos os indivíduos». É oportuno acolher esta verdade familiar como profética para todas as pessoas, também para aqueles cujas famílias não são numerosas.
A
amizade entre irmãos inscreve-se no desígnio de Deus: “Vede, como é bom e
agradável os irmãos viverem em harmonia” (Salmo 133,1). Por outro lado, a
falta de consideração pelo irmão leva às situações que contrariam o projeto do
Criador. Narra o Livro do Géneses acerca dos dois irmãos Caim e Abel (cf. Gn
4,1-16): Caim, ao verificar que Deus tinha ficado mais agradado com a oferta do
seu irmão, ficou cheio de inveja e matou Abel. Deus foi ao seu encontro e
perguntou-lhe: “Onde está o teu irmão?”. Caim responde com indiferença: “Por
acaso sou guarda do meu irmão?”. E a resposta de Deus é denunciadora: “A
voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim”.
No
mesmo Livro do Génesis (37-50), surge a figura de José, o 11º filho de Jacob.
Por ciúme e inveja, os irmãos lançam-no numa cisterna e depois vendem-no a uns
ismaelitas comerciantes a caminho do Egito. Mais tarde, em tempo de fome na
região, no Egito é José quem vai matar a fome aos seus irmãos.
Nas
duas passagens referenciadas, Abel e José do Egito são ‘figuras’ de Cristo.
Isto é, representam Cristo por antecipação. Jesus Cristo, é o Filho de Deus,
morreu na Cruz, foi sepultado e ressuscitando, alimenta-nos para tenhamos vida
e nos amemos uns aos outros como irmãos.
Jesus
é o Emanuel, o Deus Connosco, o Deus que se faz nosso irmão para nos amarmos
com irmãos. Ao dar-nos o seu Pai como nosso Pai, dá-nos o fundamento da
fraternidade que vem fundar: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que
está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”
(Mt 12,50). Ensina-nos também: “Se o teu irmão
pecar, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o
teu irmão” (Mt 18,15). E porque a referência de Jesus é o amor do Pai, a
medida do perdão entre os seus discípulos não é “sete vezes, mas setenta
vezes sete” (Mt 18,22).
A
Igreja nasceu como comunidade constituída por fiéis cristãos que se reuniam
para escutar a Palavra, alimentar e fortalecer a sua comunhão de fé e de amor
fraterno (cf At 2,42) e, assim, tratavam-se por irmãos. Ao longo dos tempos,
constituíram-se muitas famílias, comunidades, irmandades e confrarias tendo
como fundamento a Palavra do Evangelho que a todos fraterniza.
Entretanto,
desenvolveu-se na sociedade a cultura do individualismo e da liberdade global,
menosprezando-se o valor da fraternidade. Esta cultura, afirma o Papa Francisco
“unifica o mundo, mas divide as pessoas e as nações, porque a sociedade cada
vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (FT 12).
A
Carta Encíclica Fratelli Tutti (Todos irmãos) do Papa Francisco, sobre a
Fraternidade e a Amizade Social, publicada em plena pandemia (03-10-2020),
reforça a dimensão da fraternidade, não como uma opção entre outras, mas como a
solução para o futuro da humanidade. Não faz sentido a cultura do ódio aos
estrangeiros, os preconceitos que impossibilitam a esperança, o medo das
pessoas de culturas diferentes. A riqueza da fé cristã e do cristianismo, como
expressão de uma cultura, é a sua universalidade, capacidade de diálogo e
encontro intercultural.
A concluir, consideremos o “dia dos irmãos” nas várias
dimensões: os irmãos da mesma família, os irmãos da mesma Irmandade, os irmãos
da comunidade cristã e os irmãos que são todos os seres humanos, homens e
mulheres, criados à imagem e semelhança de Deus. Como escreveu o Papa
Francisco: “Para muitos cristãos, este caminho de fraternidade tem também
uma Mãe, chamada Maria. Ela recebeu junto da Cruz esta maternidade universal (cf.
Jo 19, 26) e cuida não só de Jesus, mas também do «resto da sua
descendência» (Ap 12, 17). Com o poder do Ressuscitado, Ela quer dar
à luz um mundo novo, onde todos sejamos irmãos, onde haja lugar para
cada descartado das nossas sociedades, onde resplandeçam a justiça e a paz” (FT
278).
MENSAGEM DA COMISSÃO EPISCOPAL DO LAICADO E FAMÍLIA PARA O DIA DOS IRMÃOS - 31 de MAIO de 2021
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