«Com coração de pai» (Patris Corde = PC) são as primeiras palavras da Carta Apostólica que o Papa Francisco nos ofereceu, no passado dia 8 de dezembro, para nos propor, desde então, um Ano inteiro dedicado a São José. É um modo de assinalar os 150 anos da Declaração de São José, como padroeiro universal da Igreja Católica, feita pelo Papa de então, o Beato Pio IX, em 8 de dezembro de 1870. Faz hoje precisamente 5 anos que o Papa assinou a Exortação Apostólica sobre “A alegria do amor em família” (dita em latim, «Amoris laetitia»). Para valorizar as perspetivas pastorais deste documento, inaugura-se hoje o “Ano Famílias «amoris laetitia»”, que só terminará a 26 de julho do próximo ano. São José, pai na sombra, inspira também este Dia do Pai. É ocasião para celebrarmos toda a paternidade humana, na qual se esconde e se revela a paternidade divina. Dêmos, pois, graças a Deus, pelo pai de cada um de nós, esteja ele entre nós ou vivo no céu. Invoquemos a misericórdia do Pai que está nos Céus.
Gostaria de falar-vos “com o coração de Pai”.E posso fazê-lo, porque ninguém se torna pai apenas porque colocou no mundo um filho. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito (PC 7). Entre as muitas e riquíssimas facetas desta figura de São José, um pai tão amado pelos cristãos, eu destacaria, nesta homilia, e no contexto em que vivemos, três caraterísticas.
1. São José é uma figura importante. Mas não é um VIP. Dele não conhecemos uma única palavra. É o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana, discreta e escondida, na vida de Jesus e de Maria. Olhemos, por exemplo, para os protagonistas desta luta renhida contra a pandemia. E quem vem à luz? Os que estão na sombra, como José. Onde o podemos rever? “Nos médicos(as), enfermeiros(as), trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos?» (…) São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação” (PC, Introdução). São José mostra-nos que não é bom ser importante. Importante é ser bom. Não são os aplausos que o motivam, mas o serviço humilde e generoso, o bem silenciosamente «bem feito» sem publicidade.
2. Ainda no contexto da pandemia, José é uma figura inspiradora, pela sua coragem criativa. Ele deparou-se com grandes dificuldades, imprevistos, desafios. Em Belém, para encontrar um lugar para o Menino nascer, improvisa um estábulo. Depois de nascido, diante da ameaça de Herodes, organiza a fuga, como emigrante, para o Egito, a fim de proteger a esposa e poupar a vida do Filho. Com coragem criativa, São José, homem inteligente, empreendedor, não estanca, não abandona a missão; sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência. Neste tempo, em que ensaiamos um ‘novo normal’, todos percebemos que não podemos mais voltar ao «antigamente». Precisamos de uma coragem criativa, para instaurar uma nova ordem do mundo, uma nova economia amiga do ambiente, uma nova aliança entre pessoas e povos, entre a família e o trabalho. Precisamos também, no seio da Igreja, da coragem criativa de São José, para ousarmos novos estilos, novos modos de evangelizar.
3. Uma última nota a evidenciar, na figura de São José, relaciona-se com a caminhada desta Quaresma em direção à Páscoa. Temos proposto um caminho de descoberta e valorização dos tesouros da família, chamada a ser e a crescer como Igreja Doméstica. Ora São José é o verdadeiro guardião da família porque a ele Deus confiou os seus dois tesouros mais preciosos: a Mãe e o Filho (PC 5). Neste tempo de pandemia, a família emerge como primeiro lugar da experiência do amor e do acolhimento da vida, primeira escola da fraternidade, primeiro laboratório de vida social, primeiro hospital do cuidado de uns pelos outros, primeira célula da Igreja e primeira rede essencial da missão e da transmissão da fé. São José é, para nós, o padroeiro da Igreja doméstica, dos irmãos e irmãs mais novos de Jesus, em que os pais se tornam os primeiros e insubstituíveis educadores da fé.
Ao iniciar hoje o “Ano Família «Amoris laetitia»”, peçamos a São José, Guardião do Redentor, Esposo de Maria, que nos ajude a guardar este tesouro sagrado que é a nossa família, abrindo e a semeando sulcos de paz e de esperança.
Amaro Gonçalo
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