Debulha o teu
grão, reparte o teu pão, olha para Deus com gratidão
1. Estamos outra vez, caríssimos irmãos e irmãs, a atravessar
tempos difíceis, frios e sombrios. Como se não bastassem as chagas a sangrar da
pandemia da Covid-19 com que temos ainda de lidar, eis-nos já a braços com os
tresloucados desvarios que de tempos-a-tempos assolam a nossa pobre humanidade,
e trazem à tona a doença de chegarmos a pensar que somos deuses, no pior
sentido, isto é, tiranos e prepotentes, senhores do mundo, senhores dos outros e
de tudo! Maus e mais ou menos imortais, assim pensamos, podemos matar e
destruir, pois tudo o que há para além de nós não passa de lixo e de estorvo!
2. O Livro do Apocalipse bem nos
lembra, com vigorosas imagens, que todos os nossos impérios caem: «Ai, ai, ó
grande cidade! Vestias linho puro, púrpura e escarlate, e adornavas-te com
ouro, pedras preciosas e pérolas: numa só hora tanta riqueza foi reduzida a
nada!». A citação é do Capítulo 18, versículos 16-17, mas todo o Capítulo 18
repete, com ligeiras variantes, este refrão. O Apocalipse fala assim do destino
de Roma (a que chama Babilónia) e de todas as “Roma” de todos os tempos, tenham
lá o nome que tiverem.
3. A mim, como teu bispo, é imperioso que te lembre, meu
irmão, minha irmã, que estamos também outra vez a entrar no tempo da Quaresma,
que é um tempo favorável que Deus nos dá para abrirmos caminhos novos de amor e
de paz dentro de nós. As coisas do mundo não podem alimentar-te nem encher de
perfume a tua vida. A tua alegria não está entre as coisas passageiras.
Relâmpagos, tempestades, terramotos, sons e vozes da terra são estrangeiros
para ti. Tu, meu irmão a tempo inteiro, não deixes de sentir os pés no chão do
terreiro, mas mantém também a cabeça no céu, ao léu, para poderes ouvir sempre
bem a voz de Deus, e ver bem, belo e bom, para tirar o argueiro da vista do teu
irmão e companheiro. Que o ódio e a violência nunca tomem conta do teu coração.
Que o teu coração seja habitação de paz. Que nunca te seduza o som das
espingardas. Debulha o teu grão, reparte o teu pão, olha para Deus com
gratidão. Tens a quaresma e o ano inteiro para encher de amor o teu celeiro.
Não tenhas medo do nevoeiro. Que todos os dias haja misericórdia no teu coração
e nos teus gestos. Que o Senhor seja a tua Luz, meu irmão e irmão de Jesus.
4. Caríssimos irmãos e irmãs, o tempo da Quaresma é o
tempo da conversão, o tempo da sementeira, em que Deus lança em nós novas
sementes para que nasça em nós uma nova plantação, um novo coração, atento a
Deus e aberto aos nossos irmãos mais necessitados. É por isso que em cada
Quaresma que passa somos chamados a renovar o esforço da nossa Caridade, que se
traduz na oferta da nossa esmola quaresmal. Costuma chamar-se a este esforço da
nossa Caridade renúncia quaresmal, que por amor oferecemos no Ofertório do
Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.
5. Quero voltar a informar (já o fiz o ano passado) as comunidades da nossa
Diocese de Lamego que a Coleta da esmola da nossa Caridade quaresmal relativa ao
ano de 2020 praticamente não se chegou a realizar por estarem as nossas igrejas
encerradas ao culto devido à pandemia. Todavia, recolheram-se 1.339,20 euros. O
principal destino da Coleta eram os nossos irmãos sofridos da Diocese de Alepo
dos Maronitas, na Síria, e seguiria para o seu Arcebispo D. Joseph Tobji. Como
o valor reunido era baixo, anunciei, no princípio da Quaresma passada (2021),
que daríamos o mesmo destino do ano anterior à esmola da nossa Caridade
quaresmal recolhida em 2021. Não obstante o clima ainda ser de pandemia, as
igrejas já se encontravam abertas ao culto, e conseguimos reunir perto de
10.000,00 euros, quantitativo que já seguiu para a Nunciatura Apostólica na
Síria, que o fará chegar às mãos do D. Joseph Tobji, Arcebispo da martirizada
Diocese de Alepo dos Maronitas, na Síria.
6. Neste ano e nesta Quaresma de 2022, apelo a todos os meus irmãos
espalhados pelas Paróquias da nossa Diocese, que nos sintamos comprometidos com
três situações a necessitar do nosso apoio e onde trabalham missionários
oriundos da nossa Diocese de Lamego: 1) vamos apoiar a construção de um Jardim
de Infância e de uma Casa de Formação para Crianças e Jovens, em Laleia (Timor
Leste), onde está a trabalhar a Ir. FELISMINA PEDRO, das Franciscanas
Missionárias de Nossa Senhora, e que é natural de S. João da Pesqueira; 2)
vamos apoiar melhoramentos necessários na Paróquia de S. Kisito de Begou, Diocese
de Sarh, no Chade, onde trabalha o Rev.do P. LEONEL CLARO, missionário
Comboniano, natural de S. Pedro de Penude; 3) vamos apoiar as necessidades de
D. MANUEL ANTÓNIO, Bispo da Diocese de S. Tomé e Príncipe, e também ele oriundo
do chão da nossa Diocese de Lamego. O anúncio do destino da nossa Caridade
Quaresmal será feito, como de costume, em todas as igrejas da nossa Diocese no
Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do
Senhor.
7. No início desta caminhada quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, saúdo com
afeto e alegria todos os meus irmãos e irmãs espalhados pelas paróquias da
nossa Diocese. Todos mesmo, desde os mais velhinhos até aos mais pequenos.
Ver-nos-emos logo que possível. Entretanto, a todos desejo, do fundo do meu
coração, saúde, paz, paciência, resistência, e que a ninguém falte a graça de
Deus e a mão fraterna de um irmão.
Lamego, 02 de março de 2022, Quarta-Feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso
bispo e irmão, + António
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