«Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana»
A evolução dos sistemas da «inteligência artificial»
está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação
e, através delas, algumas bases da convivência civil.
A rápida difusão de maravilhosas invenções suscita um espanto
que oscila entre entusiasmo e desorientação.
Como podemos permanecer plenamente humanos
e orientar para o bem a mudança cultural em curso?
A
partir do coração
Antes
de tudo, convém... não se inveterar contra o «novo»
na
tentativa de «conservar um mundo belo, condenado a desaparecer.
Neste
tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade,
a
nossa reflexão só pode partir do coração humano.
Somente
dotando-nos dum olhar espiritual,
apenas
recuperando uma sabedoria do coração
é
que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo
descobrir
o caminho para uma comunicação plenamente humana.
Por
isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar
o
todo com as partes, as decisões com as suas consequências,
as
grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós.
Oportunidade
e perigo
Não
podemos esperar esta sabedoria das máquinas.
É
certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior
que
os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si,
mas
compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido.
Cada
coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo,
segundo
a orientação do coração.
Crescer
em humanidade
Somos
chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade.
As
suas grandes possibilidades de bem são acompanhadas
pelo
risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato
que
reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema,
a
experiência a um caso, o bem ao lucro,
com
o risco sobretudo de que se acabe por negar
a
singularidade de cada pessoa e da sua história.
A
utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo
positivo,
se
não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar;
se
valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada
comunicador;
se
devolver a cada ser humano o papel de sujeito,
com
capacidade crítica, da própria comunicação.
Interrogações
de hoje e de amanhã
Como
tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores
no
campo da comunicação e da informação,
juntamente
com a dos utentes em todo o mundo?
Como
fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais
assumam
as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam
daí
tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece
com
os editores dos meios de comunicação tradicionais?
Como
garantir a transparência dos processos de informação?
Como
tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes,
evitando
o para-vento do anonimato?
Como
deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula?
Como
evitar que as fontes se reduzam a uma só,
a
um pensamento único elaborado algoritmicamente?
E como
promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo
e
representar a complexidade da realidade?
Como
podemos tornar este instrumento poderoso
acessível
também aos países em vias de desenvolvimento?
A
resposta não está escrita; depende de nós.
Compete
ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos
ou
nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria.
Esta
sabedoria cresce na aliança entre as
gerações,
entre
quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro.
Somente
juntos é que cresce a capacidade de discernir,
vigiar,
ver as coisas a partir do seu termo.
Para
não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria
que
existe antes de todas as coisas:
há
de ajudar-nos também a orientar os sistemas da inteligência artificial
para
uma comunicação plenamente humana. [Francisco]
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