Nos seus 18 anos, o Sérgio, rapaz recatado, mas de piada fina e sempre atento, é inseparável do seu telemóvel. É o pequenino mundo onde está o seu mundo.
Naquela manhã, apercebeu-se que o telemóvel tinha dado o berro. Tentou, voltou a tentar e nada! Foi como se um abismo o engolisse. Lá se foram os seus contactos, mensagens, músicas, programas instalados… tudo! Nem o nº de telemóvel da namoradita sabia de cor!!!
E agora? Foi ao computador pesquisar marcas, modelos e preços. Havia uns que lhe serviam, outros de que gostava e ainda outros que o satisfaziam plenamente. O problema era o preço. Além disso, o pai perdera o emprego por causa da maldita pandemia, a mãe ganhava o salário mínimo trabalhando numa superfície comercial, o carro e a casa ainda não estavam pagos e havia 5 bocas em casa para sustentar.
Quando a mãe chega a casa para o almoço, apercebeu-se que o Sérgio não estava bem.
- Que tens, rapaz?
Encolheu os ombros e disse:
- Nada… Há dias assim…
A mãe havia trazido umas encomendas para a madrinha do Sérgio que se encontrava confinada em casa e pediu-lhe se ele ia levá-las. Fê-lo com gosto, pois gostava muito da madrinha a quem chamava carinhosamente por “minha velhota preferida”.
A senhora, sempre perspicaz, notou que o afilhado não estava bem. Sentados um em cada ponta da mesa, falaram demoradamente. Sempre ela fora sua confidente.
Contou a história do telemóvel, da avaria deste, do que perdera, do que desejava – marcas, preços, tudo.
Após longa conversa, a madrinha pede-lhe que suba as escadas e coloque as encomendas nos locais por ela indicados. Foi um truque que usou para lhe dar tempo de ir ao quarto, tirar o livro de cheques, preencher um e coloca-lo dentro do envelope.
Quando o moço desceu, após breve diálogo antes da despedida, ela estende-lhe o envelope.
- Pega. É para o telemóvel. Eu depois poupo noutras coisas. Para mim és mais importante do que o dinheiro.
O Sérgio sentiu-se no céu! Por causa do vírus, não pôde beijá-la nem abraçá-la. Mas estendeu muito os braços e soltou palavras que lhe brotavam do coração:
- És a velhota mais fixe do mundo! Obrigado mesmo!
No regresso a casa, as pernas tinham asas. O sol do seu coração recuperara o brilho.
O fim de tarde e a noite é que pareciam que nunca mais passavam.
Na manhã seguinte, quando a mãe desceu para preparar o pequeno almoço, encontrou-o já pronto.
- Oh! Mas que milagre aconteceu, meu filho?!
- Mãe, posso ir contigo à cidade? Depois regressámos para almoçar. Pode ser?
- Mal a mãe estacionou o carro, o Sérgio corre para o banco a fim de depositar o cheque. Depois voa para a loja onde vê, revê e escolhe a máquina que deseja.
Após o almoço, vai para o quarto carregar programas, colocar as suas músicas, inserir contactos – para estes foi importante a ajuda dos irmãos e dos seus telemóveis, tendo em conta os contactos que lhe interessavam.
Claro que o Sérgio quis manter o seu número de telemóvel, aquele que sempre tivera, no seu novo Apple.
Pois como cereja no topo do bolo, imaginem quem foi a primeira pessoa a ligar-lhe… Quem foi? Isso mesmo, a sua namorada!
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