"Legalizar a eutanásia
No meu país está de moda o progressismo ideológico. Está de moda o que parece bem a uma civilização dita moderna. Mas confundem-se os conceitos. A maioria dos cidadãos nem sabe bem o que significa ser uma sociedade moderna. E tanto o sistema como o anti-sistema, aliados ao mundo prolífero dos milhares de opinadores sem argumentos que temos em cada computador ou telemóvel e que o mundo virtual potenciou, fazem deste meu país um país do um certo faz de conta. É um país que não se capacita o suficiente para melhorar as condições sociais, sanitárias e humanas dos cidadãos, mas está disposto a favorecer-lhes a morte.
Estamos, ao momento, a lidar com uma situação sem precedentes numa luta contra uma pandemia que nos colocou na cauda do mundo, e no parlamento português a preocupação dos deputados é a legalização da eutanásia, que aprovou ontem, para se tornar o quarto país na Europa e o sétimo no Mundo a fazê-lo.
E se alguém manifesta a sua discordância, porque tem tanto direito como aqueloutro que defende o contrário, é logo apelidado, por uma certa opinião pública, de conservador e de juiz da vontade dos outros. Como se o contrário não fosse exactamente um juízo sobre a vontade dos outros e como se defender a vida fosse ser antiquado.
Todos somos frágeis e cometemos erros. Cada um de nós comete erros e vive no meio de fragilidades. Portanto, todos devemos usar e usufruir da misericórdia e do perdão quando fazemos opções erradas com a nossa vida. Mas um estado, uma sociedade, este modo organizado de vida uns com os outros, deve procurar a defesa da vida e não a defesa da morte, sempre e a todo o custo. É a principal garantia que se deve dar a cada indivíduo.
Além disso, na constituição do meu país, no número 1 do artigo 24, pode ler-se que “a vida humana é inviolável”. Ou os deputados deste meu país também vão rever este artigo para justificar a sua decisão? O referido artigo não diz que o direito à vida é inviolável, mas que a vida é inviolável. Neste momento, o Estado não está a ter a capacidade de garantir a vida a quem quer viver, mas quer ter o poder de conceder a morte a quem quer morrer.
Estou triste e estou a fazer um esforço para não gritar contra quem não quer que eu dê minha opinião, mas quer que eu aceite a sua. E ainda aproveitam a ocasião para denegrir a Igreja. Sim, porque sempre que um padre fala sobre este assunto, atacam-no como Igreja e não como a pessoa que tem uma opinião diferente e que tem tanto direito como o oponente a dar a sua opinião. Ou como se a Igreja, mesmo que frágil, não pudesse emitir a sua opinião ou defender uma causa.
Estou consciente do quão difícil é sofrer e ver sofrer alguém que amamos. Não me podem contradizer como se não o soubesse na primeira pessoa. Estou convencido, porém, que o sofrimento não se combate com a morte, mas com soluções que minimizem o mesmo sofrimento. Legalizar a eutanásia é a oportunidade para um Estado se demitir de encontrar ou reforçar soluções como os cuidados paliativos e os cuidados continuados, entre outras similares.
Estou convencido que, mesmo no maior sofrimento, ninguém quer morrer. O que essa pessoa pretende é não sofrer. E era aqui que o meu país devia gastar as suas energias num tempo em que todos, de um modo ou de outro, estamos a sofrer."
Fonte:aqui
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