quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Mensagem de D. António Couto para a Quaresma 2018

IGREJA DE LAMEGO, NÃO DEIXES APAGAR O AMOR DE DEUS QUE ARDE EM TI

1. «Lembra-te, ó homem, que és pó, e ao pó voltarás!», é uma das advertências que remonta ao Livro do Génesis 3,19, e que se ouve a acompanhar o rito da imposição das cinzas, a abrir a Quaresma, em Quarta-Feira de Cinzas. Todavia, modelado pelas mãos carinhosas de Deus e recebendo nas narinas o alento puro de Deus (Génesis 2,7), como se fosse um beijo de Deus, como dizem os rabinos, o homem não é apenas pó. É pó e amor. E o amor não volta ao pó. Então, se «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16), e se «o amor é de Deus» (1 João 4,7), é lógico que nós só sabemos amar, porque fomos primeiro amados por Deus (1 João 4,19), porque o amor de Deus chegou até nós, tendo sido derramado nos nossos corações (Romanos 5,5). E se Deus é amor, e se o amor é de Deus, então o amor permanece para sempre (1 Coríntios 13,8), e é digno de fé.

2. É nesse amor que estamos, vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17,28), amados irmãos e irmãs. Por isso, porque o amor de Deus é a nossa vida, aquece a nossa vida, guarda a nossa vida, velemos para o manter bem vivo e aceso, e não deixemos que as ervas daninhas do ódio e da indiferença o sufoquem, ou que as torrentes caudalosas da iniquidade passem sobre ele e o apaguem.

3. Vai neste sentido a mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma, advertindo-nos logo no lema escolhido, retirado do Evangelho de S. Mateus 24,12, que o crescimento das vagas do mal à nossa volta pode submergir, esfriar e até apagar o amor de muitos.

4. Para mantermos lavrada e boa a terra do nosso coração, impõe-se limpar em nós o mato e as silvas e todas as raízes malignas. O Papa convoca para este trabalho de amor a Igreja inteira, mas alarga o convite a todos os homens de boa vontade, e propõe três remédios, que são as três práticas mais em uso na piedade cristã: a esmola, a oração e o jejum. Dada a espiral de crescimento da violência no mundo, o Papa propõe que se faça no próximo dia 23 de fevereiro UM DIA DE ORAÇÃO E DE JEJUM PELA PAZ, lembrando sobretudo a escalada de violência que se vem verificando na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul. E continua a lembrar as «24 horas para o Senhor», um dia de oração e de escuta qualificada da Palavra de Deus e dos apelos doridos dos nossos irmãos, este ano a realizar nos dias 9 e 10 de março.

5. Façamos pois, amados irmãos e irmãs, do tempo da Quaresma um tempo de diferença, e não de indiferença. Avivemos as brasas do nosso coração e dilatemos as suas cordas até às periferias do mundo, e que o nosso olhar seja de Misericórdia para os nossos irmãos de perto e de longe. Façamos um exercício de verdade. Despojemo-nos, não apenas do que nos sobra, mas também do que nos faz falta. Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Jesus não nos deu coisas, algumas coisas para o efeito retiradas do bolso ou da algibeira, mas deu por nós a sua vida inteira. Dar-nos uns aos outros e dar com alegria deve ser, para os discípulos de Jesus, a forma, não excecional, mas normal, quotidiana, de viver. Como em anos anteriores, peço aos meus irmãos e irmãs das 223 paróquias da nossa Diocese de Lamego para, nesta Quaresma, abrirmos o nosso coração a todos os que sofrem aqui perto e lá longe.

6. Neste sentido, vamos continuar a destinar uma parte da esmola da nossa Caridade quaresmal para as obras em curso no nosso Seminário de Lamego, para podermos acolher mais e mais irmãos e irmãs, e a todos oferecer, em condições dignas, mais tempos de formação, oração, bem-estar e convívio. Olhando para os nossos irmãos e irmãs de mais longe, e indo ao encontro das intenções do Papa Francisco, vamos destinar outra parte da esmola da nossa Caridade para levar um pequeno gesto de carinho e um pequeno bálsamo aos nossos irmãos e irmãs da África, mais concretamente da República Democrática do Congo, Diocese de Beni-Butembo, região do Kivu-Norte. Trata-se de populações massacradas desde 1996 por toda a espécie de guerras e violências, obrigadas a abandonar as suas terras e a procurar refúgio nos arredores das cidades, onde experimentam a fome e toda a espécie de miséria (ver texto ao lado). A nossa esmola chegará ao terreno pela mão segura dos Missionários Combonianos, que mantêm abertas diversas missões na região do Kivu e Diocese de Beni-Butembo. Este caminho da nossa Caridade Quaresmal será anunciado, como de costume, em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.

7. Informo as nossas comunidades que a Coleta da nossa Caridade quaresmal realizada no ano passado somou 18.053,68 euros, dos quais destinámos para as obras em curso no nosso Seminário 9.073,68 euros, e para os nossos irmãos e irmãs sofridos e necessitados de Moçambique e da Bolívia 8.980,00 euros, que chegaram ao seu destino pelas mãos seguras dos Missionários Espiritanos, que já nos fizeram chegar a sua gratidão.

8. Com a ternura de Jesus Cristo, no início desta caminhada quaresmal de 2018, em que a nossa Diocese é chamada a fazer a experiência de gestos de proximidade e ajuda, à imagem e à maneira do Bom Samaritano, saúdo todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados, todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação de particular carinho a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de emigrantes.

9. Não esqueças, Igreja de Lamego: só não se perde o que se dá! Que o Deus da Paz nos conceda uma abundante chuva de Graça e de Ternura, e que Maria, nossa Mãe, seja nossa carinhosa Medianeira.

Lamego, 14 de fevereiro de 2018, Quarta-feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e plena comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão, + António.

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