O país regressou a casa, o ano escolar está à porta e setembro é o mês de todos os recomeços, também nesta comunidade. Perante a escalada da exigência que Jesus coloca aos discípulos, nesta etapa do caminho, precisamos de medir forças e recursos, ponderar e discernir as nossas escolhas, para que nada se anteponha a Cristo. Peçamos a Deus que leve até a fim a obra que quer realizar em nós e por meio de nós. Que Deus saia vencedor de todas as nossas lutas e nos tornemos vencedores graças a Ele
Homilia no XXIII Domingo Comum C 2025
1. Entrámos em setembro, como se fosse Ano Novo! Bem depressa, as ondas do calor ou da praia se despediram de nós, para nos reconduzir a casa, ao trabalho, à escola. Na praça pública, disputam-se as eleições autárquicas e discute-se o novo Orçamento de Estado. Para as eleições, pede-se um discernimento atento e uma ponderação cuidada, na escolha dos candidatos. Para o Orçamento, é preciso deitar contas à vida, com realismo e prudência. As duas parábolas contadas por Jesus encaixam que nem uma luva: em todo o caso, é preciso sentar-se a medir forças para o combate, antes de enfrentar o adversário; é preciso deitar contas à vida, antes de começar a construir, para não fazer torres no ar. São também dois avisos oportunos, para ancorar em Cristo, com audácia e realismo, um novo ano pastoral.
2. Na verdade – mesmo sem os brindes da campanha eleitoral – seguia Jesus uma numerosa multidão! O que é para desconfiar, pois certamente alguns embarcaram em tal aventura, sem medir forças, sem deitar contas à vida! Por isso, esta onda de popularidade não satisfaz Jesus; antes O preocupa! Vai daí, Jesus sobe a fasquia. É um líder insensato, que em vez de promessas fáceis, fala de renúncias: de cada um renunciar a si mesmo, ao que é seu e aos seus. Se alguém quer seguir Jesus, não pode ser Seu discípulo a baixo preço. E no alto preço está tudo incluído: os laços familiares, os bens e a própria vida. Nesta renúncia, não se trata de abandonar a família, o que seria trair o mandamento divino; não se trata sequer de deitar a perder tudo o que temos; renunciar à própria vida não é descuidar-se dela, mas oferecê-la. Renunciar a tudo para seguir Jesus é pôr tudo o que somos e tudo o que temos no coração de Jesus, deixando que seja Ele o Rei e o Senhor de tudo. Por consequência, seguir Jesus transformará as nossas relações familiares e sociais, fará dos nossos bens pessoais um instrumento de partilha e assim a nossa vida tornar-se-á um dom para os demais. Renunciar é perder para ganhar, é ter menos para ser mais!
3. Esta decisão – como nos adverte Jesus – exige ponderação, discernimento, avaliação. Estaremos à altura de concluir o que começámos? Teremos condições para vencer esta batalha? A nossa primeira tentação é a de encontrar uma boa desculpa, para não nos comprometermos com Cristo e com a Igreja, a partir de um certo calculismo egoísta: “Não quero prometer e depois não cumprir”; “prefiro não me comprometer, porque não estou seguro de não vir a faltar”, “não me sinto capaz desta missão”; “não sei se tenho as condições necessárias para desempenhar esta função”. Pois é. Mas a questão que Jesus nos põe não é essa. Não é uma questão de capacidade ou de desempenho. A questão é a de saber se te decides por Ele ou não… se Lhe ofereces o coração do teu coração ou não, se te comprometes com Ele ou não!
4. Estamos no Ano Jubilar que nos convida a ser Peregrinos da Esperança. Esta esperança só é possível com o teu compromisso na mudança. Precisamos de pessoas de palavra, de pessoas de serviço, de pessoas de compromisso! Esse compromisso começa em tua casa, com a tua família, passa pela tua profissão, e chega até esta casa comum, que é a Igreja. Mesmo quando, porventura, pouco mais podes do que rezar ou oferecer o teu sofrimento, o cansaço da idade e a tua solidão, não deixes de assumir esse compromisso orante e oferente, tornando-te, na retaguarda, uma fonte de bênçãos, para quem está na linha da frente no campo de batalha. Se a saúde te permitir, olha para os grupos, serviços, ministérios na paróquia, e vê se podes integrar algum deles, para te sentires e tornares útil à comunidade. Dá corpo e alma à esperança. Faz parte da mudança que desejas. Invoca o Espírito Santo, para que te liberte daquele medo que te leva a adiar ou a fugir ao compromisso. Levanta os olhos para o Crucificado e reza: “Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta” (Sto. Inácio de Loyola). Acredita, confia, arrisca: “Aquele que te pede tudo, também te dará tudo” (GE 175)
Amaro Gonçalo, aqui Com adaptações)
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