quarta-feira, 23 de abril de 2025

FRANCISCO: UM NOME, UM PROGRAMA, UMA PROFECIA

 
Quando foi eleito, o nome escolhido pelo Papa era já um programa e uma profecia. O nome “Francisco” evoca simplicidade, pobreza, fraternidade, renovação da Igreja, cuidado por todas as criaturas. E assim foi. Em jeito de acróstico, gostaria de traduzir este programa e esta profecia, com as próprias letras do nome Francisco:

F - Fraternidade. Esta foi a primeira palavra do Papa, no dia da sua eleição: «rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade». Na sua primeira Mensagem de Ano Novo (1.01.2014) escolheu como tema “Fraternidade, caminho e fundamento para a Paz”. Na encíclica Fratelli tutti («Todos irmãos»), escrita no contexto da pandemia da covid-19 (3.10.2020) o Papa desafia-nos a tomar consciência de que somos filhos do mesmo Pai; somos «todos irmãos» e, por isso, devemos tornarmo-nos «irmãos de todos». Nesta fraternidade, não há o «eu» e depois os outros; não há o «nós e eles» mas apenas um «nós», pelo que nos salvaremos juntos ou não nos salvaremos.
R - Renovação: Desde o primeiro dia, o Papa convidou a Igreja a uma grande renovação, a uma transformação missionária, à conversão pessoal e pastoral de todas as estruturas, para que a Igreja não se comportasse como a mulher curvada, que adoece por estar fechada sobre si mesma, mas se tornasse uma Igreja em saída, não uma alfândega da fé, mas uma Igreja de portas abertas.
A - Alegria: as grandes exortações apostólicas do Papa estão marcadas pela alegria: a alegria do Evangelho e a alegria de evangelizar (Evangelii Gaudium); a alegria do amor em família (Amoris laetitia), a alegria da santidade (Gaudete et exsultate), a alegria da verdade (Const. Ap.Veritatis Gaudium). A alegria é como o sal do Evangelho, é a veste de que se reveste a vida cristã. E o Papa não perdeu nunca o fino sentido de humor, fazendo dele um atributo da santidade.
N - Novidade: Este foi o Papa que veio do fim do mundo, o primeiro papa jesuíta, o primeiro papa latino-americano, o primeiro papa ordenado depois do Concílio Vaticano II. Ele trouxe a antiga novidade, a frescura e ternura, nas suas escolhas, no seu estilo simples de vida, nos seus gestos surpreendentes, nas suas palavras tocantes, nos telefonemas inesperados, nas visitas a prisões e a tantas periferias do nosso mundo. Deixou-nos novas palavras, como «primeirear» (Deus precede-nos no amor e nós devemos tomar a iniciativa de amar primeiro), “misericordiar” (deixar-se perdoar e perdoar aos outros).
C - Compaixão: este foi o Papa que escolheu como lema episcopal o comentário de São Beda Venerável ao chamamento de Mateus “misericordiando, escolheu-o” («miserando atque elegendo»). Este foi o Papa do Ano da Misericórdia (2016), que não se cansou de dizer que Deus não se cansa de perdoar; nós é que nos cansamos de lhe pedir perdão. Ao contrário dos políticos que são fortes com os fracos e fracos com os fortes, este foi o Papa crítico, frontal e destemido com os fortes e poderosos da Igreja e do mundo e, ao mesmo tempo, o Papa que se se ajoelhou perante os mais frágeis, os mais pobres, os mais simples, os mais indefesos.
I- Inclusão: Este foi o Papa que abriu as portas da Igreja a todos, todos, todos. Quem não se recorda desse grito na JMJ em Lisboa? O Papa quis uma Igreja que não se transformasse numa casta de eleitos e puros, mas fosse uma comunidade acolhedora capaz de integrar a todos: homens e mulheres de todas os géneros e identidades, estrangeiros e imigrantes, de casa e de fora. Todos fora. Todos dentro.
S - Sinodalidade: Este foi o grande projeto pastoral do Papa: uma igreja sinodal, capaz de ouvir e discernir o que o Espírito diz às Igrejas. O Papa quis fazer da sinodalidade uma forma de ser e de construir a Igreja, em que todos os membros do Povo de Deus, pela graça do batismo, estão dotados do sentido da fé e por isso têm o faro para intuir os caminhos da evangelização; por isso, todos os
fiéis, leigos, religiosos ou ministros ordenados, devem aprender a escutar-se reciprocamente e a falar com desassombro e franqueza, para que, juntos, possam participar no processo de discernimento e de elaboração das decisões, para caminhar de mãos dadas, voltados para o futuro.
C - Casa Comum: O Papa trouxe, para a agenda do nosso mundo e para a linha da frente da missão cristã, o cuidado da nossa Casa Comum, pois somos todos, por vocação cristã, guardiães da criação. O Papa pediu-nos uma conversão ecológica, que salve o Planeta do uso e abuso depredador, que alimenta a riqueza de alguns e deixa mais pobres os pobres deste mundo. A Encíclica Laudato Sí (Louvado sejas, 24.05.2015) foi dos documentos da Doutrina Social da Igreja mais lidos e mais acolhidos, dentro e fora da Igreja. O Papa atualizou esta encíclica com a temática específica da crise climática, na Exortação Apostólica Laudate Deum («Louvai o Senhor») em 4.10.2023).
O - Odor das ovelhas: Este foi, sem dúvida, um verdadeiro Pastor com o cheiro, com o “odor das ovelhas”, que não teve medo de conviver com as prostitutas do seu bairro, que aliás conhecia pelo nome; que não teve medo de abraçar com ternura os mal-amados, os malcheirosos, os leprosos, os doentes, os homossexuais e transexuais, os reclusos, os líderes de outras religiões, a ponto de lhes beijar os pés para implorar o dom da paz.
Como diz o Papa, na conclusão da sua Autobiografia: «eu sou apenas um passo». Que este último passo, o da sua vida, que culminou na sua Páscoa em Cristo, inspire os passos da Igreja com o Papa que vem a seguir!
Amaro Gonçalo, Facebook

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