quarta-feira, 14 de agosto de 2024

A DIOCESE E O FUTURO


Um destes dias, encontrei-me com um sacerdote amigo, já com alguma idade e portador de doença crónica.
Era um Domingo. Um dia de calor.
Perguntei-lhe quantas Missas já tinha celebrado e a resposta foi simples e rápida: - Cinco. Estou exausto!
Esta e muitas outras situações têm-me feito pensar sobre o “estado da Igreja” e levado a concluir que esta nossa Igreja não está preparada para as dificuldades que virão, e que já aí estão.
Os sacerdotes adoecem e morrem, os seminários estão quase vazios, os poucos sacerdotes que restam estão em verdadeira exaustão, a cuidar de 4, 5 e mais paróquias- a continuarmos assim, muitas mais serão - e não se divisa nenhuma solução pensada ou executada.
Em cada caso de doença incapacitante ou de morte de cada pároco, pede-se ao sacerdote vizinho que acuda à situação e compense a carência, e assim se vão sobrecarregando os sacerdotes, a até ao extremo das suas forças.
Nesta verificação, tenho vindo a pensar se não poderá fazer-se alguma coisa, ou procurar e encontrar alguma solução.
O que vou escrever, provavelmente, é um disparate, mas, mesmo assim, atrevo-me.
Eu achava que, em cada paróquia se deviam preparar já, e sem mais demoras, lideranças de serviço, para além do respectivo pároco.
Explico:
Em cada paróquia (incluídas as que ainda têm pároco residencial), a população devia ser convidada a escolher, por votação secreta de cada família ou de cada católico, alguém – homem ou mulher – que, na ausência de sacerdote, tocasse o sino aos Domingos, reunisse a comunidade, presidisse a uma Celebração da Palavra, e distribuísse a Sagrada Comunhão aos que o desejassem.
“A homilia, se o líder não fosse diácono, seria escrita pelo pároco dessas comunidades - que podiam ser muitas - e enviada semanalmente a cada um desses lideres religiosos, por mail, antecipadamente.
Em colaboração com esse líder escolhido pelo próprio povo que poderia designar-se por “Coordenador Paroquial”, e sempre sob a presidência do pároco, primeiro responsável pela paróquia, deveria existir um grupo de apoio – “Conselho Paroquial” - para curar dos diversos sectores e serviços essenciais, nomeadamente:
-Um tesoureiro que registasse em livro as receitas e as despesas da paróquia, e que, no final de cada ano, apresentasse as contas ao Conselho Pastoral e ao pároco para aprovação e as tornasse públicas a todos os paroquianos.
-Um responsável pelos bens móveis e imóveis da paróquia, pela sua conservação, e pela limpeza e pelo asseio dos lugares de culto.
-Um responsável pelas celebrações litúrgicas, encarregado de organizar os serviços de leitura e do canto nas celebrações.
-Um responsável pela organização e pelo funcionamento da catequese das crianças, dos jovens e dos adultos.
-Um responsável pelo serviço aos pobres, na comunidade.
Se assim estivesse tudo organizado, todas as ausências e carências de pároco (imprevistas, temporárias ou definitivas) estariam de algum modo solucionadas.
Penso ainda que não seria difícil reunir, quando necessário e oportuno, a convite do pároco, esses líderes das diversas comunidades ao seu cuidado para, em conjunto, trocarem experiências e receberem formação específica. Esses líderes que presidiriam à celebração dominical, na falta ou na ausência de sacerdote, seriam formados e preparados em cada arciprestado ou zona pastoral, para o bom exercício das funções que se lhes pedem.
Julgo até que, em caso de extrema necessidade, poderia esse líder eleito pelo povo, mesmo que não seja diácono, presidir a funerais e administrar o Batismo.
Por sua vez, o pároco do conjunto de paróquias sob a sua responsabilidade pastoral poderia e deveria celebrar a Eucaristia Dominical em cada uma delas, ao Domingo, rotativamente, e deslocar-se-ia uma vez por semana às que não tiveram missa ao Domingo, para celebrar a Santa Eucaristia pelas intenções dos fiéis dessa comunidade, para consagrar as hóstias necessárias para a Sagrada Comunhão no Domingo, para atender de Confissão quem o desejasse, e para tomar conhecimento da vida e do andamento da comunidade.
Eu sei que, em comunidades pequenas, é difícil arranjar estes elementos, mas devemos reparar que essas mesmas comunidades conseguem ter pessoas suficientes e capazes para constituir os órgãos autárquicos.
Os referidos “Conselhos Paroquiais” teriam ainda o cuidado de reunir nas suas comunidades um contributo para a sustentação do pároco. Na verdade, não precisamos de ser profetas ou adivinhos, para percebermos que tal assunto é urgente e grave e há que encontrar alguma solução conveniente. Pelo menos, a possível.
Penso que uma organização assim seria, na prática, o que se pretende com a tão badalada “Igreja Sinodal” de que o nosso Papa tanto fala.
Para tanto, os maiores responsáveis pelas dioceses poderiam redigir um regulamento com força de lei, para que fosse conhecido e implementado em todas as comunidades de cada igreja diocesana.
O que acabo de escrever não passa de uma simples opinião ou alvitre, saído da boa fé de quem ama a Igreja e se preocupa com ela. Vale o que vale.
                                                    Joaquim Correia Duarte, Sacerdote

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